17 de jan. de 2012

The Girl

Costumava ser como pisar em ovos. sempre tentando achar a combinação e medida perfeitas das palavras. qualquer termo ou abreviação mal colocados poderiam significar o fim da linha; não necessariamente o fim da linha, mas, a perda de um atalho, o aumento extremo do caminho. e isso era o que ela menos queria.

Poderíamos dizer, sim, que isso se liga diretamente à sua natureza simples; na disposição mais crua da palavra. simples, mas complexa em sua simplicidade. não gostaria de ferir ninguém, nem pelo mais valioso ouro. aceitava, no entanto, os golpes e punhaladas que recebia dos que estavam ao redor. é mais uma questão de natureza mesmo, e não uma questão de escolha ou ponto de vista. assim como só nos auto-conhecemos ao escrevermos, creio que ela também somente se conheceria por completo ao vivenciar certas experiências. tudo sempre lhe pareceu fora de foco: inconfortável em sua própria pele, colossalmente isolada (em uma casa cheia), sem passado, destino, exilada, solitária exilada sem destino. são pensamentos que povoam sua mente perturbada, não raro.

Onde ela vive, há alguns meses em que faz bastante frio, não aquele frio que permita a graça da neve, mas frio o suficiente para não conseguir se movimentar de tantos agasalhos e mantas. ela gosta do frio. antigamente, a explicação para isso era a de que no inverno, com o excesso de roupas, não precisava mostrar seu corpo. auto-flagelado. agora ela acha que realmente gosta do frio, talvez por ter vivido tão longe dele, por tanto tempo. é uma cidade de tamanho mediano, sem graça até. talvez ela seja a única a ver algo rosa nela (la vie en rose). por ter passado tanto tempo longe? quiçá (la vie en rose). existem algumas coisas que não a agradam, e que sinceramente não agradariam a ninguém do tipo dela. na escola onde estuda, onde acorda religiosamente cedo para ir batalhar (sim, porque é uma batalha, e sofrida!), existem fatos e acontecimentos extremamente desagradáveis; como as diferenças abismais entre os tipos de personalidades. é sim, um fenõmeno social. como a discrepância entre centenas de jovens pode levar a semelhantes atos de injustiça e briguinhas ferrenhas e inúteis.

Ela não consegue explicar como se sente, exatamente, sobre isso. a única coisa que pode afirmar é que tudo agora, mais do que nunca, pelo menos ali, é irreversível. não é ser pessimista e sim realista. ninguém está disposto ou sequer pensa em mudar sua conduta auto-suficiente. ela gostaria que todos vissem que apesar dos contrastes profundos, existe algo dentro de todos, como uma pedra especial, que pode ser compartilhada e mostrada, independente de afinidades ou aparências. mas eles não verão.
embora haja isto, há também a parte feliz. ela conseguiu encontrar, em meio à multidão, uma pessoa, que se tornou extremamente próxima, é semelhante a um irmão siamês. ela sabe que tudo passa, tudo vem e tudo passa, pensa nisso demais, até. se pudesse congelaria o tempo na fase atual. essa aliança harmoniosa que conservam hoje, por mais que não queiramos enxergar, se enfraquecerá com a distãncia.

Antes de dormir ela pensa, o quanto sua vida sintética mudou. o quanto sentirá falta dessa pessoa,e o principal: o quanto deseja (ainda) ter vivido tudo ao lado dele. pode ser dramático demais pensar isto, mas ela pensa. pensa que é uma mariazinha-ninguém, intrometida nas afeições alheias. chegou, tomou lugar de muitos. invadiu o quarto escuro onde guardavam as relíquias, os ossários de batalhas passadas, fraquejadas, porém não perdidas. e agora ela está quase completamente consolidada, mas ainda é como a água, oscilante e profunda. profunda demais.
analisando as pequenas coisas que costuma analisar, sente-se bem diferente dessa pessoa, esta é a perfeita união entre terra e ar. terra; profundidade, ar; expressão.  e a garota, ah...ela, é um oceano dentro de um rio. água sobre água mais água e se desorienta nas profundezas.

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