30 de jan. de 2012

Inquietude

Esse estado de constante inquietude incomoda muito. sim, inquietude..pois quais seriam as explicações alternativas a tantas limpezas e reorganizações de gavetas, de tantos passeios sem rumo sob o sol, de tantas tentativas de realizar mil coisas ao mesmo tempo? são todos tiros às cegas, uma tentativa falha de encontrar algo concreto e estável para se fazer...uma maneira de canalizar tanta energia ociosa. o problema da inquietação é que ela não vem só...traz consigo a angústia e a frustração. a angústia de estar sempre em busca de algo que não se sabe o que é nem se é. a frustração de não conseguir superar suas próprias expectativas.
É díficil desligar a mente de um estado como esse. é .. finalmente deixar de lado seus inúmeros afazeres e simplesmente se deixar levar pelo tempo livre que se tem nas mãos, fazer outra coisa, que não seja queimar neurônios. sair. pôr os pés na calçada, movimentá-los até o outro lado da rua, até a esquina, até o fim do bairro, até o fim do mundo. isso requere muita força de vontade, e ao mesmo tempo, uma impulsividade momentânea (devemos sempre aproveitar o momento de impulso, no momento em que ele chega à nossa superfície, na sua forma mais crua e desinibida).
Com um pouco de sorte, talvez essa inquietude infernal um dia passe, subitamente, assim como veio.

nascidos e criados por hipócritas

e assim as pessoas seguem em frente, aos tombos e aos tropeços, passando por cima de quem dizem adorar, adulando quem dizem detestar. a hipocrisia está mais presente do que qualquer um de nós possa perceber. é mais fácil vê-la em pequenos grupos, onde as relações se intensificam e se aproximam ao máximo. algumas pessoas parecem se apegar a hipocrisia como se esta fosse um soro intravenal, que causasse dependência.
raiva, aversão, desapontamento..que outras emoções nos provoca o ato de ver outras pessoas FAZEREM algo que DIZEM combater? veja, as duas atitudes diferem em gênero e grau. tal ato nos provoca um ódio súbito, um ímpeto de desmascarar esse ser que despeja mentiras para todo lado...e só há um único motivo para não o fazermos: a maldita convivência. apesar do prazer que ver a máscara cair traria, devemos pensar a longo prazo, afinal, seria um tanto incômodo ter que partilhar por mais alguns anos seus dias ao lado de uma pessoa com quem você brigou.
é, são os ossos do ofício (de qualquer um).

17 de jan. de 2012

Hopeless Emptiness

gosto de ver fotografias antigas. elas se mostram através de vidros quebrados, lábios destorcidos, olhos embaçados. eu insisto nelas, confesso. mas não me trazem dor, nem mesmo alegria. apens um vazio nostálgico.
apenas queria me tornar inconsciente. de meus próprios dias, de minhas próprias necessidades, porque eu as vejo como um todo, tão claramente como profundas águas claras, enxergando através de uma lente gigante de dor. o destino é como uma enorme lupa arrastando, esmagando nossas feridas.

Desesperança e Eu

uma fome inesperada de não sei o quê. uma força tentando romper as vísceras. o choro do vento, nauseante. só há poeira e espaços vazios por aqui. daqui o tempo parece intacto. sem estações de florescência ou o frio nostálgico.
daqui, eu realmente não sei nada sobre as suas cores ou rabiscos.
o teto parece se aproximar, sufocante, opressivo. grades e vidros que de nada adiantam. estado de meio-existência, estupor silencioso. sinto falta do verão; e de muitas outras coisas. nossas vidas são compostas de períodos. oscilações completas ao redor de algo. apens não sei quanto tempo vou levar para assimilar tal fato.

Depois de Ler Rimbaud;


Cantigas centenárias, tradicionalistas
o zumbido das folhas balançando
risos e palavras de mulher
será que existo?
pequena cidade, pequena alma
anacronia sólida, inferno mútuo
o céu é nostalgia mansa que flutua
tamanha é minha vastidão e individualidade,
que as mulheres mortas se tornam impenetráveis
e todos os feitiços vermelhos adormecem sobre a grama
nesta quadra devastada
outeiro mórbido do horror
faz destas minhas primeiras palavras
de outra era, chagas do ardor.

"you can write, but it's Rimbaud's arm".

The Girl

Costumava ser como pisar em ovos. sempre tentando achar a combinação e medida perfeitas das palavras. qualquer termo ou abreviação mal colocados poderiam significar o fim da linha; não necessariamente o fim da linha, mas, a perda de um atalho, o aumento extremo do caminho. e isso era o que ela menos queria.

Poderíamos dizer, sim, que isso se liga diretamente à sua natureza simples; na disposição mais crua da palavra. simples, mas complexa em sua simplicidade. não gostaria de ferir ninguém, nem pelo mais valioso ouro. aceitava, no entanto, os golpes e punhaladas que recebia dos que estavam ao redor. é mais uma questão de natureza mesmo, e não uma questão de escolha ou ponto de vista. assim como só nos auto-conhecemos ao escrevermos, creio que ela também somente se conheceria por completo ao vivenciar certas experiências. tudo sempre lhe pareceu fora de foco: inconfortável em sua própria pele, colossalmente isolada (em uma casa cheia), sem passado, destino, exilada, solitária exilada sem destino. são pensamentos que povoam sua mente perturbada, não raro.

Onde ela vive, há alguns meses em que faz bastante frio, não aquele frio que permita a graça da neve, mas frio o suficiente para não conseguir se movimentar de tantos agasalhos e mantas. ela gosta do frio. antigamente, a explicação para isso era a de que no inverno, com o excesso de roupas, não precisava mostrar seu corpo. auto-flagelado. agora ela acha que realmente gosta do frio, talvez por ter vivido tão longe dele, por tanto tempo. é uma cidade de tamanho mediano, sem graça até. talvez ela seja a única a ver algo rosa nela (la vie en rose). por ter passado tanto tempo longe? quiçá (la vie en rose). existem algumas coisas que não a agradam, e que sinceramente não agradariam a ninguém do tipo dela. na escola onde estuda, onde acorda religiosamente cedo para ir batalhar (sim, porque é uma batalha, e sofrida!), existem fatos e acontecimentos extremamente desagradáveis; como as diferenças abismais entre os tipos de personalidades. é sim, um fenõmeno social. como a discrepância entre centenas de jovens pode levar a semelhantes atos de injustiça e briguinhas ferrenhas e inúteis.

Ela não consegue explicar como se sente, exatamente, sobre isso. a única coisa que pode afirmar é que tudo agora, mais do que nunca, pelo menos ali, é irreversível. não é ser pessimista e sim realista. ninguém está disposto ou sequer pensa em mudar sua conduta auto-suficiente. ela gostaria que todos vissem que apesar dos contrastes profundos, existe algo dentro de todos, como uma pedra especial, que pode ser compartilhada e mostrada, independente de afinidades ou aparências. mas eles não verão.
embora haja isto, há também a parte feliz. ela conseguiu encontrar, em meio à multidão, uma pessoa, que se tornou extremamente próxima, é semelhante a um irmão siamês. ela sabe que tudo passa, tudo vem e tudo passa, pensa nisso demais, até. se pudesse congelaria o tempo na fase atual. essa aliança harmoniosa que conservam hoje, por mais que não queiramos enxergar, se enfraquecerá com a distãncia.

Antes de dormir ela pensa, o quanto sua vida sintética mudou. o quanto sentirá falta dessa pessoa,e o principal: o quanto deseja (ainda) ter vivido tudo ao lado dele. pode ser dramático demais pensar isto, mas ela pensa. pensa que é uma mariazinha-ninguém, intrometida nas afeições alheias. chegou, tomou lugar de muitos. invadiu o quarto escuro onde guardavam as relíquias, os ossários de batalhas passadas, fraquejadas, porém não perdidas. e agora ela está quase completamente consolidada, mas ainda é como a água, oscilante e profunda. profunda demais.
analisando as pequenas coisas que costuma analisar, sente-se bem diferente dessa pessoa, esta é a perfeita união entre terra e ar. terra; profundidade, ar; expressão.  e a garota, ah...ela, é um oceano dentro de um rio. água sobre água mais água e se desorienta nas profundezas.

Enjoy The Silence

por  vezes até parece que eu perdi o meu nato "dote" para escrever. analisando friamente, nunca foi tão bom...mas sempre me satisfez. como os dias têm sido corridos e as noites tão tênues...as pessoas tão ausentes. literalmente. por um lado é até bom. enjoy the silence,sim, eu aprecio o silêncio, e o trato como um grande corredor...por onde passo apática e veloz. não quero parar, olhar para todos os lados e perceber o vazio.

por vezes lembranças de auroras distantes se acendem repentinamente em minha memória. mas é momentâneo, não há tempo para pensar muito no passado, quando absolutamente tudo depende do futuro. e um futuro bem próximo, este se veste como uma vultosa raposa negra. o choro do vento do inverno não colabora.

por vezes quero estar completamente cercada por melodias, que afaguem ou amenizem a dor; anestésicos, placebos, paliativos. um disfarce conveniente e eficaz. se pudesse, escreveria para sempre.
por vezes dói tanto ser forte em um momento, mas desmonorar no seguinte. é o que tem acontecido, vamos nos encaixando cada vez mais em nossas cavernas, nos cobrindo de ilusões de segurança, quando nunca estaremos a salvo de nós mesmos, é inútil...

por vezes penso que, sim, eu deveria anular tudo completamente, como se fosse uma folha de papel rabiscada, aquela velha estória de querer começar tudo do zero. isso é ilusório. creio que, para nos satisfazermos devidamente, teríamos que trocar de vida pelo menos uma vez a cada cinco anos. e talvez ainda fosse pouco. não deixo esses tipos de pensamento muito desgarrados chegarem á superfície. sinto que, no fundo, pela auto-educação que tive, coisas que vivi, coisas nas quais acredito, eu deveria ser algo diverso do que sou hoje. mas as influências externas são meros incentivadores perto da sua verdadeira essência.

velhas palavras

Tens tudo, absolutamente tudo
O cálice derramado por sobre tua fronte
Inspira sopro divino por tua boca
Te são oferecidos mundos, caixas de papelão
Com as quais fazes barcos...

O que é este torpor que transcende o conceito de patologia?
Sim, é algo a mais do que uma psicose, mesmo que instantânea
A dor desliza por dunas tissulares. contorna e se soma à tua estúpida carne
Ainda tens a figura de um macho...mas nada
dentro de ti é terreno...sentes que transcende a barreira corpórea
Ficas no topo, sentado, observando a grande magia de tudo...

Apenas tenha a certeza de que és um busto
em exposição em um museu qualquer deste mundo
Almas te admiram, te vaiam ou te odeiam
Não importa o que aconteça, estás em constante exposição.

Surrealismo?

trancado dentro de centenas de paredes incapaz de gritar
você sente que aquela melodia nostálgica de leve
irá despertar a dor que estava dormindo
como uma maçã podre
que está infectada até o caroço
como um tronco
sem seiva
e um fluxo constante

o calmo conformismo
pinga em forma de cera
do seu ouvido esquerdo
você é uma estátua da dor
como venus de milo
não foi crucificado
por não ter braços

uma pesada cruz
você não consegue aguentar
e isso continua
o cheiro de ferro dos ossos
sangrentos e carnosos esfregando-se e partindo-se

9 de jan. de 2012

O Enigma da Palavra


 E as promessas cada vez mais antigas vão se esvaindo pelos poros, se transformam em partículas microscópicas diante da grandiosidade e longevidade de nossa história. e só o que me resta é escrever. é meu único ataque, minha única redenção.
Escrever, em meu universo, significa voar aos céus e enxergar o limite (the sky is not the limit), o mais alto que eu posso alcançar, porque é através das palavras irreais que eu escrevo, que eu me torno real.
escrevo mais retalhos e vestígios de histórias do que textos propriamente ditos. mas é o bastante, sinto-me satisfeita comigo mesma, como em poucas outras ocasiões me senti.
Por mais que o mundo esteja desmoronando lá fora, por mais que todas as espadas fechem o cerco ao redor, a minha escrita, e principalmente o meu pensamento, sempre permanecerão intactos, intocáveis. um porto seguro ao qual posso sempre fugir em meio à tempestade. nada mais peço além disso, nada mais mereço.

3 de jan. de 2012

plenitude e perfeição

   Um sentimento esmagador de completude toma lugar. tudo parece estar indo conforme o desejado, como se subitamente, todos os sinais tivessem ficado verdes. tudo está tão perfeito quanto uma escultura de vidro, recentemente cinzelada...é tão clara e bela mas ao mesmo tempo muito delicada, a qualquer movimento brusco ou mal jeito de mãos, há o risco de ela se partir, em milhares de pedaços irreparáveis.
  Não se pode encontrar a felicidade nem mesmo na perfeição, não plena, pelo menos. usualmente vai parecer bom demais para ser mesmo verdade, como se por trás de tudo houvesse algo não tão belo. haverá agonia, ansiedade e medo, na perfeição. mas enquanto isso, na superfície nítida e limpa, sou apenas faíscas, águas cristalinas e sinais verdes.