18 de mai. de 2012

a verdade em carne viva

 
 naquele momento, sentiu uma atração irresistível pela dor, desejou com todas as forças que a vida tomasse o rumo mais sofrido. desejou loucamente que fosse deixado para trás, ignorado e tripudiado. talvez fosse a inércia que tomava conta de sua vida empoeirada...alguma coisa tinha de acontecer.
   é claro que sempre se preocupou mais com cicatrizes alheias do que com suas próprias, sua principal função nessa vida parecia ser curar as feridas abertas que encontrava pelas esquinas, as veias esvaziadas e azuladas pelo calor do fogo. ondas de remorso e nostalgia viajam em um fluxo interminável de agulhadas epiteliais, provocando uma profunda dor crônica e isso curiosamente lhe causava satisfação, um quase contentamento.
   a dor era de tirar o fôlego, comprimia seu cérebro, mas era revitalizadora. como um sopro vindo diretamente da garganta da morte acordando-o de um sonho catatônico. escrevia-lhe poemas, contos e dava seu sangue por ela, velha companheira de desencontros casuais e noites fatídicas. essa é a canção invocada por uma alma enterrada viva, enjaulada dentro do espelho das próprias ilusões. o extremo, o limite era sua única salvação, nada a impediria de destruir as correntes e cavar seu caminho até a superfície.
   dizem que quem passa pelo caminho da dor paga um preço alto, mas seu final reserva uma recompensa. bem, se há alguma verdade nesse mundo, é o fato de que alguns nasceram para se perder por aí...

and it's hard to dance with a devil on your back so shake him off...