"Eu dizia então, que a fortuna ama os insensatos, os homens ousados e temerários, os que dizem como César, ao cruzar o Rubicão: A sorte está lançada. A sabedoria torna os homens tímidos. Assim é comum ver os sábios constantemente às voltas com a pobreza, a fome e a dor, vivendo na obscuridade, desprezados e detestados por todos. Os loucos, ao contrário, nadam na opulência, governam os impérios, em suma, desfrutam do destino mais feliz e mais próspero."
"É doce desvairar no momento certo. É preferível passar por um homem em delírio e sem nenhum talento, do que ser sábio e atormentado o tempo todo."
"Ora, se escondemos com tanto cuidado as coisas preciosas e deixamos ao arbítrio de cada um as que não têm valia, não é evidente que isso quer dizer que a loucura é mais preciosa que a sabedoria, pois ele ordena esconder uma e proíbe esconder a outra?"
"Definir-me seria dar-me limites, e minha força não conhece nenhum."
"Dizei-me, peço-vos, é a cabeça, o peito, o rosto, as mãos, as orelhas, é algum desses membros honestos que engendra os deuses e os homens? Em absoluto. A parte que serve à propagação ao gênero humano é tão doida, tão ridícula, que não saberíamos dominá-la sem rir."
"E, de boa fé, qual é o mortal que quereria sujeitar-se ao casamento se tivesse considerado antes, como homem sensato, os inconvenientes desse estado? Qual a mulher que cederia às demandas amorosas de um homem, se tivesse pensado a sério nos incômodos da gravidez, nas dores, nos perigos do parto e nos trabalhos penosos da educação? Ora, já que deveis a vida ao casamento, e os casamentos são formulados pela Demência, que é uma de minhas seguidoras, julgais quantas obrigações me deveis."
"A vida mais agradável é a que transcorre sem nenhum tipo de sabedoria."
"Aliás, têm elas outro desejo na vida senão o de agradar os homens? Não é esse o objetivo dos enfeites, das maquiagens, do banhos, dos penteados, dos perfumes, dos odores, enfim, de todos esses preparados cosméticos que servem para embelezar, pintar ou disfarçar o rosto, os olhos e a pele? Pois bem, não é pela loucura que elas podem atingir esse objetivo tão desejado? E, se os homens toleram tudo nas mulheres, não é unicamente em vista do prazer que delas esperam? E esse prazer, o que é senão a loucura? Estaremos convencidos dessa verdade se atentarmos a todas as futilidades que um homem diz, a todas as loucuras que ele faz com uma mulher, sempre que tem vontade de gozar de seus favores."
"A amizade é o maior de todos os bens; tão necessária à vida quanto à água, o fogo e o ar."
"Fechar os olhos para os desregramentos dos amigos, iludir-se sobre seus defeitos, imitá-los, amar neles os maiores vícios, admirá-los como se fossem virtudes, não é isso o que se chama entregar-se à loucura? O amante que beija amorosamente uma mancha que percebe na pele de sua amante [...] Sim, dizei quanto quiserdes que são loucuras, e loucuras das mais mais completas; mas admiti, no entanto, que são essas loucuras que formam e mantêm as amizades."
"Pois há alguma coisa no mundo que não traga a marca da Loucura, que não seja feita por loucos e para loucos? Se alguém quiser opor-se sozinho a essa loucura universal, aconselho-o a seguir o exemplo de Tímon, o misântropo, e a enfurnar-se numa solidão profunda para ali desfrutar, sozinho, sua cara sabedoria."
"Ora, o homem não é mais infeliz por ser louco do que o cavalo por não saber gramática, pois a loucura está ligada à sua natureza."
"A natureza é inimiga de tudo que a dissimula e a constrange, e seus produtos mais perfeitos são aqueles que a arte não corrompeu."
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